Como não meter conversa com pessoas na fila do supermercado, para dummies.

Eu sei que tenho o karma endrominado até à sétima casa (sempre achei esta expressão curiosa, dá ar de nova rica, com várias casas na Quinta da Marinha e tudo), mas Jesus abusa do meu auto-controlo.

 

Contexto: dia de aniversário do meu filho.

Entre outras coisas, teve direito a fazer uma coroa de "Rei Guilherme" no seu dia.

Sim, deixei-o andar com ela o dia todo, inclusivamente quando fomos às compras, porque é um dia por ano e ele merece sentir-se especial.

 

Estava na fila para pagar, que ia extensa. Tinha apenas um item na mãozoca e estava até na fila de prioridade, em que ninguém tinha qualquer deficiência, idade avançada ou filhos de colo/in utero, aguardando pacientemente a minha vez.

 

Nisto acerca-se a "campeã". A campeã de passar à frente das pessoas nas filas, está claro, mas também a campeã do caruncho.

 

E quando falo em acercar-se a mim, falo de não respeitar o meu dance space, quase podendo saber de antemão o que ela tinha comido ao almoço - provavelmente incluía paté de crack e vinho tinto.

 

Após ter tentado endrominar-se à minha frente na fila, sem sucesso, passou para o ataque passivo-agressivo. Num dia normal se calhar até a tinha deixado passar, porque não tenho paciência para me irritar com algo que não ia acrescentar nada ao meu dia, mas estava com alguma pressa.

Relembro que o crianço tinha uma coroa de papel na cabeça, a qual tinha de ajeitar com relativa frequência.

Nisto, a campeã sai-se com a brilhante saída, dito em tom azedo:

 

Está a coçar? Devem ser piolhos.

*inserir sorriso afectado da senhora*

 

Notem que para uma mãe a simples palavra: piolhos arrepia até ao cocuruto. Embora seja algo relativamente natural e que pode acontecer a toda a gente, o nosso primeiro instinto é dizer "o meu filhinho não tem piolhos!!!", mas se tivesse, não é nada que um Quitoso não resolvesse.

Aguentei-me e fiz um sorriso amarelo, mas o meu "pois sim" não serviu para a senhora se calar, continuando:

 

Sabe que os piolhos servem tanto os ricos como os pobres. A minha filha também já teve.

*inserir ar de nojo e repulsa social da parte dela, como se eu representasse a família Espírito Santo*

 

Primeiro fiquei confusa, confesso que me surpreendeu achar que fosse  rica:

Minha senhora, estou no Pingo Doce, não estou propriamente no super do El Corte Inglés, venho patrocinada por Zara do-tempo-em-que-as-coisas-ainda-não-custavam-o-triplo, o que dá um retrocesso de pelo menos 4 anos no meu look (#asfashionistasschoram) e tenho UM item na mão, não vou propriamente deixar lá 100€, nem sair com uma garrafa de Moët Chandon debaixo do braço.

 

Voltei a aguentar-me e respondi "é verdade, acontece a todos, mas sim, vou estar atenta".

 

Serve este episódio essencialmente para quê?

Se estivesse sozinha, não me tinha incomodado muito, seria apenas mais um episódio de má educação a que assisto infelizmente com grande frequência, tanto de ricos, como de pobres, como de malta que, como eu, faz parte da classe média remediada.

Incomodou-me por ser à frente do meu filho, no dia de aniversário dele, e por ser de uma mesquinhez com uma premissa tão válida como a dos piolhos: serve, infelizmente, toda a gente.