Sinceramente custa-me ouvir falar em crise. Nos queixumes do costume, nos nhenhenhe sobra-me mês ao dinheiro.
A verdade é que esta crise foi sustentada por nós (pelos nossos pais), como um gato gordo a quem se continua a comprar Whiskas saquetas porque "coitadinho, fica tão feliz com estas coisas".
Somos isso: a geração das coisas. Do ter.
Eu cresci sem roupa de marca, sem muitos dos brinquedos que gostava (e que nem sequer pedia porque sabia o que podia e não podia ter), sem as viagens a locais exóticos, sem os hotéis de 5 estrelas, sem os cursos de francês, inglês, e diabo a quatro, sem paté e caviar, e muitas outras coisas que são, meramente, acessórias.
Os meus pais pagaram a casa deles em 18 anos. Era para ser a 30. Amortizaram, porque pouparam, fizeram sacrifícios, souberam ter prioridades. Algo que cada vez vejo menos.
Parece-me que andamos sempre a tentar comprar o vazio que sentimos e atafulhamo-nos de coisas para esquecer aquilo que nos faz verdadeiramente felizes. Dizemos que não temos dinheiro, mas vemos as férias na República Dominicana, o BMW ou o apartamento T5 novinho em folha.
Crise?
Crise é não ter comida para colocar na mesa. É não ter dinheiro para o vestuário básico da família. É usar as coisas até não dar mais. É ir à praia a pé ao pé de casa para dar um dia diferente aos filhos. É ter dois trabalhos porque a casa não se paga sozinha. É viver com a conta a zero ao dia 15. É depender das pequenas ajudas.
A vida de tantos está pautada por um grave problema: a infantilidade. O vi, tenho que ter. O se ele tem eu também quero. O importa ter isto hoje, amanhã alguém há-de resolver.
E enquanto assim for, não saímos da cepa torta.
Obrigada por este texto. Também cresci assim, sem ser privada de "nada", mas em que o "nada" é roupa normalíssima, brinquedos normalíssimos, comida (da boa!) e amor (muito!). Eram tempos simples. Onde as pessoas não viviam tão insatisfeitas. Eu ficava feliz por correr no campo na minha avó e por andar de bicicleta, na rua, até à hora de jantar.
ResponderExcluirEu também cresci assim! Mas as crianças hoje em dia estão cada vez mais habituadas a ter tudo quanto querem, e depois o mercado de brinquedos e gadgets é tão amplo que se torna difícil resistir!
ResponderExcluirDepois isto torna-se um mau hábito para a vida adulta!
É como tu dizes, é o ver qualquer coisa e querer, ou porque o outro também tem! Depois a isto juntas o problema dos créditos e quando o ordenado chega à conta já foi todo chupado para pagar as dívidas, mas é preciso manter a aparência, dê lá por onde der!
Aliás, acho que os créditos são um grande problema da sociedade em geral e o que faz com que muita gente compre mais do que realmente pode, simplesmente porque não pensa a médio/longo prazo e nos custos que realmente resultam dessas compras todas!
Este teu texto deu lugar a post lá no estaminé. Espero que não te importes.
ResponderExcluirTodos temos um pouco de infantilidade. No caso de algumas pessoas, só são adultos no BI.
ResponderExcluirAinda hoje, adoro o simples pão com manteiga, de uma altura em que não se gastava dinheiro em superficialidades como nutellas e la piaras, e melhor se for com marmelada feita em casa por nós com os marmelos da árvore do terreno dos vizinhos!
ResponderExcluirconcordo a 1000%! e depois há aquela coisa a que se chama "não dar valor àquilo que se tem". se os filhos têm como exemplo uns pais gastadores, que lhes dão tudo de mão beijada só porque o menino fez birra, que valor vão esses filhos dar à vida? se não têm dificuldade em conseguir aquilo que querem, óbvio que a vão desvalorizar. e futuramente reflecte-se no carácter da pessoa, que se torna desonesta, sem humildade, e trabalha para construir mais uma «geração das coisas» ! e depois claro, é uma bola de neve que nunca irá ter fim. porque a verdade é que portugal nunca saiu da "crise", porque pessoas destas sempre houveram e e vão continuar a haver!
ResponderExcluirEu não diria melhor. E é mesmo isso o que eu penso.
ResponderExcluirO momento "abre-olhos" do dia. Clap clap clap! Grande cueca.
ResponderExcluirEsta podia muito bem ser a descrição da minha infância e, ainda assim, fui tão, mas tão, feliz. a brincar a fazer pastéis de terra porque os meus pais não tinham dinheiro para o inicio dos jogos electrónicos, a brincar na rua com os vizinhos, a vestir roupa comprada na feira semanal porque nas lojas era só para ocasiões especiais. Mas felizmente nunca faltou o que era essencial: comida na mesa e carinho no coração. e se hoje os meus pais têm um nível de vida confortável foi porque em vinte e muitos anos as férias eram sempre passadas em casa, porque nunca cobiçaram a galinha da vizinha e porque sempre lutaram (e nos ensinaram a lutar) para ter tudo o que têm.
ResponderExcluirOra alguém que me percebe! Não percebo uma crise onde as pessoas continuam a comprar casas de meio milhão de euros, automóveis topo de gama, férias milionárias entre outras coisitas mais tendo ordenados perfeitamente normais. O dinheiro não cresce nas árvores! Depois fazem créditos sobre créditos e amarram as mãos na cabeça quando a coisa corre mal, eventualmente vai correr mal, não é preciso ser um génio para lá chegar. Educam os filhos no mais perfeito materialismmo consumista e criamos um ciclo vicioso. Este país não é a sério.... Mais do que uma crise económica isto é uma crise de valores!
ResponderExcluirConcordo contigo, completamente. Hoje em dia todos se preocupam com as aparências. A verdade é que a maioria dos portugueses habituou-se a um determinado nível de vida e agora não está disposto a abdicar disso, a poupar e a fazer sacrifícios. Fala-se em poupar e pensam logo em crise.
ResponderExcluirQue grande post, gostei muito...
ResponderExcluirEu conpreendo perfeitamente, tudo isso.
Beijos
Concordo plenamente. A minha infância foi assim e só assim sei dar valor às coisas. Já os meus irmãos como são mais novos e vieram noutros tempos não sabem dar valor, infelizmente. É tudo uma questão de educação.
ResponderExcluirA modo de exemplo ontem conheci um rapaz com um Mercedes SLK, que no meio da conversa dizia que não andava a mais de 100. E eu perguntei porquê, visto que o carro anda muito mais que isso. Ao que me responde que não tem dinheiro para gasolina. Que tem o carro mas não tem dinheiro para o manter.
Sinceramente, nem fiquei surpreendida, porque o que há mais são pessoas a tentar mostrar coisas que não tem dinheiro para elas. É ridículo. Crise? Não sabem o que é ter só manteiga e leite no frigorífico, porque certamente não gastavam dinheiro em carros de alta cilindrada.
K*
Infelizmente tens razão... Eu cresci e ainda estou a crescer assim. E sabes que mais? Sou muito feliz com pouco, pois tenho uma família incrivel ao meu lado!
ResponderExcluirtudo tãaaaaaao verdade!
ResponderExcluirPalmas!
ResponderExcluireu vivo essa crise. a crise em que a comida que vai para a mesa é toda contada. Massa ou arroz branco. Pais desempregados, família grande...como eu compreendo isso tudo.
ResponderExcluirUm dos melhores posts que já li. É totalmente verdade.
ResponderExcluirBeijinhos, bom fim de semana!
É triste, e o pior é que as pessoas continuam a endividar-se ainda mais.
ResponderExcluirOra nem mais!
ResponderExcluirSubscrevo a 100%!
são estes teus posts que me deixam mais saudades dos tempos que passaram, que guardo na memória com o maior dos carinhos.. viver a vida da melhor forma que sabemos e podemos, guardando sempre junto ao coração o que verdadeiramente importa. ;) beijokinhas
ResponderExcluirSim, eu andei anos da minha infância a pedir uma Barbie aos meus pais, pelos anos. Passou um ano, passaram dois, julgo que até três, até ter a tal Barbie - marca Barbie, mesmo (não a Nancy). E fui feliz como nunca. Não percebia na altura porque tive que esperar tanto tempo....até que um dia, anos mais tarde e já na preparatória alguém me atirou isto à cara:
ResponderExcluirnão gosto de ti porque és pobre!!!
Mas hoje eu sei que eu não era pobre! Nunca me faltou comida em casa! Nunca me faltou roupa para vestir (não era Benetton? azar, era marca da loja de rua que tb era boa). Acima de tudo, nunca me faltou carinho! Viagens e férias? Tinha...em casa da minha avó perto do Resende. Um mês inteiro na aldeia com montes e vales para explorar. E fui feliz. E ainda o sou sem conhecer o mar das Caraíbas, acredite-se ou não!!
60% de quem se queixa da crise, entra-me pela agência dentro e pede-me Maldivas para Lua de Mel, ou Cabo Verde como SEGUNDAS férias do ano!! Crise? Atiro-lhes sempre com um grande sorriso: "há....no bolso de quem perdeu casa e carro e tem 2 filhos a estudar".
Não poderia estar mais de acordo e ainda hoje tive uma conversa acerca do assunto. A propósito, vim aqui ter por acaso e gosto bastante do blogue, vou seguir ;)
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