O fenómeno da Carrinha Mágica.

Se há desenho animado da infância que guardo com carinho, taco a taco com o Meu pequeno pónei e a Navegante da Lua, é a Carrinha Mágica.

O problema com os desenhos animados é que quando olhamos para eles com olhos-de-adulto (claramente algo em que tenho manifesta dificuldade), as coisas ganham outros contornos. Se no caso do pequeno pónei é apenas estúpido acreditar que cavalos anões falam e têm crinas impecáveis, em relação à Carrinha Mágica pergunto-me: onde andavam os pais daquelas crianças?

Cada vez que vou buscar o Gui pergunto como correu o dia (mais um capítulo na saga da mãe chata), ao que ele me despacha sempre com um "brinquei", acompanhado de um olhar em jeito de desafio às minhas capacidades intelectuais por esperar mais como resposta. Será que era também isso que os putos respondiam aos pais? E eles acreditavam?

Não sei se isto vos acontecia ou era só eu que não tinha dois dedos de testa, mas eu nunca concebi que os desenhos animados acontecessem noutro local que não Portugal/Reino da Fantasia. Para uma miúda desterrada no sopé da montanha, que nem nunca tinha visto um chinês, toda aquela diversidade cultural numa só sala de aula era, no mínimo, suspeita, como aliás tudo o que é demasiado politicamente correcto. Ali os putos não gozavam uns com os outros, eram todos bem comportados, amorosinhos e aborrecidos. Nunca vimos o gordo na baliza ou a mexicana a levar tacos na marmita.
A cena da iguana também era estranha. Não só porque nessa altura via pouco o BBC Vida Selvagem e demorei anos a perceber que era uma iguana, como era a única com laivos de adulta responsável, contrariamente à pessoa que era remunerada para cuidar dos putos.

No fundo, a minha teoria é a de que aqueles putos tinham todos uma trip colectiva administrada pela professora (que tem um ar, no mínimo, esquisito) através de droga nos pacotinhos de Bongo do lanche, enquanto ela ficava a jogar Super Mário. Isso ou aquela professora era a mais inconsciente da História, porque nunca me esqueço de algumas viagens de estudo lendárias, como conhecer o interior do corpo humano, com especial ênfase a uma pit stop no cólon.