13.7.15

O amor não tira férias.

Há uns largos meses li uma entrevista de António Fagundes, que relatava como a sua actual relação funcionava muito bem para ele - cada um na sua casa, encontrando-se para os momentos de paixão, companheirismo, mas voltando sempre à casa de partida: a de cada um.
 
Ora, passando à frente da parte em que o que funciona para uns, não funciona para outros, será possível que seja amor sem a parte feia do amor?
Quando digo feia, digo crua, genuína, com falhas. Somos feitos disso, por isso as nossas relações serão também elas feitas disso.
Até que ponto podemos dizer que é amor, se nos juntamos apenas para o bom?
Como se ultrapassam os problemas, os momentos difíceis, as chatices? Onde fica o "nós", se se vê mais o "eu"?
 
É fácil gostar de algo que parece perfeito. Será mais uma ilusão que outra coisa qualquer.
Difícil é ver além disso.
 
Por outro lado, todos temos necessidade de nos celebrar sem mais distracções.
As coisas são realmente mais fáceis de gerir sem a imposição de voltar todos os dias ao mesmo espaço, cheio de responsabilidades e também obrigações.
Mas aqui está o cerne da questão: o desejo de voltar sempre a casa. O conforto de saber que alguém que gosta de nós nos espera.
 
Idealmente uma relação feliz é feita de equilíbrios, entre as nossas necessidades e as do outro, entre o tempo e o espaço para nós e para os dois, entre cedências e sacrifícios.
Maya Angelou disse uma vez: Be a rainbow in somebody else's cloud. Um apoio e um porto seguro, qualquer que seja a tempestade.
Não consigo conceber que seja realmente amor sem isso.

12 comentários:

  1. Não sei, mas parece-me que António Fagundes não terá uma vida como a generalidade das pessoas. Ou que toda sua vida terá sido assim, cada um em seu lado. A sua profissão se calhar assim o obrigou, para que tudo desse certo.
    Mas, mesmo admitindo isso, vendo aquilo que é a minha vida, acho que não faz sentido nenhum. Um casal é o "lado-a-lado", em tudo na vida!

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    1. Nenhuma relação verdadeira existe só para o bom. Ou existe para tudo, ou mais vale estar-se quieto.
      É válido para a família, para o respectivo/a e para os amigos.

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  2. Será uma relação com potencial para durar muitos anos. Uma relação de qualquer coisa. Não de amor. Essa é mais completo. Também tem a parte feia.

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    1. É uma relação prática, parece-me. Mais apaixonada, até, concedo. Sem as minudências, a roupa espalhada, a toalha molhada em cima da cama,...
      Mas também é em part-time. Quão verdadeiro pode ser ter hora para gostar?

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  3. Totalmente de acordo contigo.

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  4. O homem é velho, já teve que aturar muita mulher. Eu sempre disse que, caso um dia me venha a divorciar - espero que não! - não meto mais nenhuma mulher em casa. Tirando quando for velho e precisar de alguém que tome conta de mim que não quero ir para um lar, mas isso já são contas de outro rosário.

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    1. Não sei se foi ele a aturá-las, ou elas a aturá-lo, já que o senhor tem fama de ser pouco discreto nas suas actividades extra-curriculares.

      Quanto ao resto, é questão de fazeres como os padres e arranjares uma "mulher-a-dias", que "por acaso", vive lá em casa, tomando conta do senhor. O facto de ser uma russa toda enxuta é um pormenor :D

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  5. Mas quem é que a conveceu de que mesmo morando cada um na sua casa não há parte 'feia'? e leva-me a outra questão rápida, caso acontecesse consigo ter de morar noutro país, ou noutra casa por causa de alguma situação inesperada que lhe acontecesse, a sua relação acabava? Perante isto como em tantas outras coisas só experimentado é que julgamos com alguma certeza. E mesmo assim no Amor, certeza, essa sim, é coisa que não cabe.

    Sandra

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    1. Isso são imponderáveis :) um casal normalmente quer estar onde o outro está e só não o faz se não puder. Além disso, se ler em cima, eu digo: o que funciona para uns, não funciona para outros.

      Felizmente ou infelizmente há casais mais unidos mesmo à distância, que muitos na mesma casa.
      Não concordo é com a parte da certeza, quando há amor, há certeza. Podemos duvidar de muita coisa, mas não do sentimento em si.

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  6. Percebo perfeitamente o António Fagundes, conheço várias relações assim e eu próprio já fui, em mais do que uma circunstância, uma relação assim durante algumas semanas e meses. No entanto, a minha opinião é que é um tipo de relação menor, mais virada para o companheirismo e sexo (nada contra, mas é o que é). Uma relação superior, de união de almas, que mantenha a consistência apesar do desgaste, uma plataforma familiar ou que pelo menos dê alento a outros à nossa volta, algo que seja consequente, algo porque sejamos recordados, algo que permita profundidade e sobretudo intimidade, é que para mim é o verdadeiro desafio. Valorizo muito o dinheiro, a carreira, sexo, etc mas as relações humanas de qualidade é que nos deixam verdadeiramente satisfeitos e realizados. Mesmo assim, não critico ninguém nestes assuntos e nestas escolhas. Cada um dá o seu melhor. Muitas relações parecem perfeitas e na realidade são compostas por infelicidade. Além disso há fases difíceis, períodos melhores e piores em que queremos coisas diferentes. Talvez para muitas pessoas o melhor mesmo seja um tipo de relação à Fagundes. Ou estar sozinhos/as. A vida é bela.

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    1. Ora, Pulha, tocas no cerne da questão: uma relação não existe e pronto, precisa evoluir para algum lugar, precisa alimentar-se de sonhos e objectivos que sejam comuns...e precisa também de muita sorte e ainda mais trabalho.

      Costumo achar alguma graça aos "não estaremos juntos, mas vou amar-te para sempre". Fica bonito nos filmes e acredito até que algumas pessoas acreditem também nisso quando o dizem. Só que o amor é um organismo tão vivo quanto os seus instrumentos e precisa de respirar a outra pessoa, sob pena de se tornar apenas uma memória acarinhada, mais que algo que ainda vive.

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