O mundo da miopia.

Sou míope confessa desde os meus 6 anos. Portanto, há 19 anos com problemas de visão, 11 dos quais enquanto caixa-de-óculos a saltitar de modelito em modelito (de notar que os primeiros eram azuis turquesa, de massa, com uns toques de amarelo-canário e magenta e uma correntezinha amarela para não os perder, que tornavam qualquer brincadeira de recreio numa amálgama de coisas sem-sal, mas que poupavam o orçamento aos meus pais) e cerca de 4 deles com issues e tentativas de esconder o facto que usava óculos, pondo-os na mala assim que saía de casa ou levando-os descuidadamente para a praia "esquecendo-me" deles lá.

A verdade é que ser míope não é assim tão mau.
Por exemplo, dá um jeito imenso para ignorar pessoas na rua que não nos apetece cumprimentar. Ou para não ver bem a cara e expressões da malta quando temos de falar em público. Ou dar renovado valor aos nossos outros sentidos, que acabam por se apurar. Ou termos de nos chegar bem pertinho para ver as coisas (ok, esta admito que possa ser perigosa, especialmente quando misturada com doses generosas de álcool e gente feia-que-parecia-bonita-ao-longe).
Claro que as dores de cabeça, as letras desfocadas, as idas ao cinema na primeira fila, os sinais de trânsito ignorados, os atropelamentos (a animais, como ouriços, ou pequenos monstros, como pombos - aí é só serviço público), são apenas algumas possíveis consequências de uma vida desregrada de dioptrias.

Mas há coisas na minha relação com a miopia que não percebo:

1. Nunca saber a percentagem de visão que tenho em cada olho.
2. Porque é que as pessoas comparam dioptrias entre si. As quais também não sei.
3. O riso suíno do meu oftalmologista.
4. As batas das pessoas das lojas que não são verdadeiramente oftalmologistas, mas querem parecer gente séria-quase-farmacêuticos enquanto vendem líquido das lentes.
5. O Artur Agostinho na publicidade da Multiopticas.
6. Preferir achar que se tem um tumor cerebral com intensas dores de cabeça como sintoma, a ir rever a graduação. (Fail)

E era isto.