28.7.15

Faz birras? Porta-se mal? Tablet para a mão do menino!

A lei da gravidade traz com ela aquela noção de que tudo o que mandamos para cima, volta para baixo. Daí que, especialmente em temas parentais, goste muito pouco de cuspir para o ar.
Ainda assim, optando por uma lógica simples de efeito/recompensa, é fácil chegar à conclusão de que uma birra não deve originar um reforço positivo, sob pena de se usar sempre isso como forma de conseguir o que se quer.

Algures no tempo venderam-nos o quadro das crianças fofinhas e bem-comportadas, autênticos querubins. Ora, quem tem filhos sabe que isto é algo que ocorre com a mesma frequência que um eclipse solar, sendo o habitual eles comportarem-se como pequenos demónios irrequietos, prontos a testar os nossos limites.

Ou seja: cansaço, falta de paciência, pouco tempo livre de lazer, resulta em pais ansiosos, stressados e filhos igualmente ansiosos e stressados, como se o ar que se respira em casa se transformasse por osmose.
O resultado é ver miúdos que desde cedo mexem em tecnologia, como o Santo Graal de os manter distraídos e quietos uns longos minutos.
Confesso que faz-me confusão ver miúdos que mal andam entreterem-se com jogos e habituarem-se a fazê-lo em todo o lado, seja durante as refeições, quando os pais estão nas compras ou nos serões em casa.
Isto dos tablets em mãos pequeninas não é o reflexo de pais demasiado cansados para conseguirem brincar como deve ser?

Preocupa-me um pouco que todos os meninos da turma do meu tenham um tablet.
Caro ou barato, não é o relevante. É algo que, a meu ver, nem devia ser "deles", ao invés de ser da família.
Têm 4 anos e fazem peer pressure para a norma ser ter um tablet!

Não digo que não usufruam das tecnologias, digo que o façam, pelo menos, com regras.
Não porque o menino, coitadinho, pediu tanto, ou porque está a chorar-se todo que quer jogar, ou porque toda a hora é uma boa hora para um jogo e se teve um dia mesmo difícil e ao menos assim ele está meia hora sossegado.
Todos temos dias destes, em que exasperamos, em que nos colocamos em causa, em que só queremos que estejam um bocadinho quietos e cedemos a estas bengalas ocupacionais, porque, naquele momento, não estamos com capacidade para fazer melhor.

A única coisa que os filhos querem dos pais, além de amor, é atenção e disponibilidade para os ouvir falar sobre todas as coisas importantes no mundo deles.
Se o dia-a-dia é fácil? Não é.
Nem todos os dias conseguimos ser os pais que queremos ser e que eles merecem que sejamos. Mas ser pai é a tarefa mais exigente que nos vão colocar na vida e não conseguiremos realizá-la na sua plenitude se formos procurando apenas os atalhos que achamos facilitá-la.

11 comentários:

  1. 4 anos com tablets?!...
    Fdx, está tudo louco.

    ResponderExcluir
  2. O pior é que há "peer preasure" dos outros putos. Mesmo que tu não dês ao teu, eles vêem os outros putos da sua idade com tablets. É uma rande pressão.

    ResponderExcluir
  3. Tablet? Leva uma de Nestlé e já vai com sorte.

    ResponderExcluir
  4. A minha irmã (foi um acidente tardio dos meus pais) pediu-me um tablet há uns anos (teria uns 10 anos) e eu dei... de chocolate de leite. :)
    Também já pediu uma WII e ficou combinado que receberia quando tivesse Muito Bom nos testes. Continuamos à espera desse dia, mas não está esquecido!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os meus pais nunca me deram prendas nem por notas, nem por passar de ano.
      Diziam que era a minha obrigação e que ser ou não bem sucedida só me afectaria a mim e à minha vida futura.
      Na altura custava-me um bocadinho ver os meus amigos com coisas novas de recompensa pelo esforço e eu a "anhar". Hoje em dia percebo o que queriam transmitir-me, muito embora não partilhe necessariamente da mesma opinião a 100%. Em situações pontuais, por que não? :)

      Excluir
    2. Same here.
      E apesar de ser obrigação, também concordo com a tua opinião. Pontualmente deve-se compensar o esforço.

      Excluir
  5. A questão para mim não está nos tablets (cada geração tem os seus brinquedos, nós tivemos os nossos, a geração a seguir terá outros diferentes, etc). A questão para mim é que um pai e uma mãe não têm que ser os melhores amigos dos filhos, não têm que vencer concursos de popularidade todas as semanas. Têm que amar e dar uma direcção. Alguém tem que mandar e alguém tem que obedecer. Democracy is overrated.

    ResponderExcluir
  6. Inteiramente de acordo que uma birra não deva ter uma recompensa positiva. Mas, recorrendo ao trocadilho com o chocolate, essa recompensa tanto pode ser um tablet como uma tablete (v. classicas birras de supermercado, por exemplo). Não percebo bem são as relação que o post faz com a questão da "tecnologia".

    A relação birra --> reforço positivo = miudo mimado já existia muito antes de haver tablets. E é danosa de igual modo, com ou sem "tecnologia". Também não acho que faça muito sentido termos criado esta categoria _completamente_ nova de "tecnologia". Um tablet pode ter uma utilização completamente análoga à da televisão (i.e. um ecrã que supõe um espectador "passivo"), mas é visto como uma coisa algo diferente (porque é nova?).

    Também é verdade que pode ser utilizado para jogos ou aplicações semelhantes e - nalguns casos - com um valor pedagógico até mais interessante do que a televisão (se forem coisas indicadas para a idade dele).

    Continuando com a analogia da televisão, não há nenhum problema em, de vez em quando, um miudo agarrar num tablet e jogar um jogo, ou ver uns vídeos. Se for supervisionado, contextualizado, e não exceder um certo tempo, é uma actividade perfeitamente saudável (ou, pelo menos, não danosa). Como ver televisão. Também não vejo nenhum drama no meu filho me pedir para jogar um jogo no tablet, e eu com isso comprar "meia hora" de descanso (para poder ler o jornal, ou um livro). Até pode ser bom para a sanidade mental de pai e filho que tenhamos "meia hora" de descompressão. Com mais filhos na equação, muitas vezes é um instrumento essencial de sobrevivência.

    Problemas a sério é quando há crianças que passam 2,3, 4 horas em frente a um ecrã, com pais distantes e pouco controlo sobre o que a criança está a ver. Mas aí tanto pode ser de uma televisão, tablet, telemóvel. É indiferente.

    Mas também concordo contigo que a ideia de um miúdo com 4 anos ter um tablet só para si é disparatada. Pode perfeitamente usar o tablet da família (mais uma vez, como a televisão), com regras claras e definidas. Mas se não tiver um tablet, ninguém morre. Lá está, se ele está habituado a chorar para conseguir obter coisas, ele não tem um problema de relação com a "tecnologia", tem um problema de educação. :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa cena de fazeres comentários melhores que o post tem de acabar pá! :D

      No fundo é isso que quero expressar: ter noção. Perceber que o cansaço muitas vezes evita que estejamos à altura do desafio e que isso não pode ser recorrente, sob pena de estarmos a criar crianças que mais tarde não terão a ligação emocional devida connosco, bem como ficarão aquém da educação que lhes deveria ter sido dada.
      É uma questão de não cair no exagero, compreender que há coisas para certas idades e fases e que os miúdos têm de ter tempo para ser miúdos, o que engloba viver em comunhão com a tecnologia e também com o mundo lá fora dos joelhos, por vezes, esfolados :)

      Excluir
    2. Mas fazer comentários é fácil, e até é indiferente se uma pessoa der umas gralhas; valor, valor mesmo é postar, e com regularidade! ;)

      e é mesmo isso! Joelhos esfolados > tablets, etc. Ou "queres o tablet? esfola-me esses joelhos", que acho que era o que os meus pais me diziam em relação a jogar zx spectrum. Lá agarrava, contrariado, na bicicleta e ia para a rua, acho que tinha 7,8 anos. mas sabia-me bem. bom artigo / entrevista recente do Observador sobre este assunto das crianças 'totós' (às vezes acertam) e que toda a gente partilhou, mas depois ninguém quer ser o primeiro a mandar os miúdos sozinhos para a rua (acho que vai ter de ser uma cena comunal).

      Excluir