2.9.13

Tacanhez.

Minha, na certa. Por não compreender que um piropo é, necessariamente, assédio e potencia a violação de mulheres.
Se me disserem que o piropo rebaixa a mulher, no sentido da máxima "a minha liberdade acaba onde começa a do outro", muito bem, concordo - que foi, aliás, aquilo a que tais "feministas" se propuseram a discutir. Agora, argumentar-se, como já li, que o piropo é praticamente o preliminar dos violadores, é excessivo e com o pézinho no extremista.
Confesso, quando isso acontece nos mais variados contextos quotidianamente, inclusivamente por outras mulheres, e não passa, necessariamente, por nos dizerem meia dúzia de frases foleiras, preocupa-me mais. Há muitas mulheres a objectificarem-se a elas mesmas e a perpetuarem a desigualdade entre sexos.

Perdoem-me as defensoras acérrimas de que o piropo é a arma química social de objectificação da mulher, mas os tarados continuarão a ser tarados e, que eu tenha conhecimento, não há uma generalidade de violadores cuja carteira profissional diga: pedreiro.
Aliás, se queremos falar em perfis, se calhar importava analisar que as pessoas com os tais comportamentos sexuais desviantes, são muitas vezes os cultos doutores e engenheiros, que observam, manipulam calculisticamente e até são pouco dados a burgessismo.

Não há questões mais prementes a resolver, que devem estar na ordem do dia, do que impedir (ou pelo menos consciencializar que existem consequências a) que nos digam ó flor dá para pôr?

Se os piropos por vezes rebaixam as mulheres? Claro que sim. Eu não sou pró-piropos, nem pró-humilhação da mulher. Trata-se da nossa liberdade social, mas trata-se também de ter o bom-senso necessário de compreender que legislar sobre um piropo não é o mais importante de momento, por exemplo e que nós também temos um papel activo em termos de luta pela tal igualdade.
Ou até de compreender que a linha que separa o assédio, do piropo, é muito ténue, se nos rimos simpaticamente da boquinha do Carlos da Contabilidade, mas o Sr. Pedreiro já está a assediar-nos sexualmente.

Já ouvi piropos na vida, já lhes respondi à letra até. Mas também já fui apalpada na via pública por um velho que nada me disse, cujo comportamento era de um velhinho simpático andando na rua preocupado com os números do totoloto, em vez de tentar averiguar que tipo de indumentária interior eu estaria a usar.
Não sabemos de onde o assédio pode vir, se da boca dos engenheiros de andaimes, ou do cardiologista, ou do senhor do talho. É um exagero associar essa mentalidade, que é tacanha objectivamente, a violadores. As mudanças sociais e do papel da mulher acontecem muito lentamente e talvez seja mais preponderante compreendermos também o nosso contributo pessoal em termos de combater a imagem de que a mulher existe para ser objectificada.

3 comentários:

  1. Não sabia que isso ía mesmo para a frente. Quero ver até que ponto eles vão considerar uma frase como assédio. Vai ser giro isto, vai. loool

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  2. O assédio verbal (que, como já referi, para mim é algo distinto de um piropo, pelo menos na génese) é "só" um reflexo da falta de respeito pelo sexo oposto e esse não se manifesta só nas ruas, só por palavras ou só por trolhas e mitras. Falar-se disso, num esforço geral para avaliar até que ponto o nosso civismo (e aí é tanto de homens como de mulheres) está na lixeira, acho bem. Trabalhar para educar gerações futuras, varrer preconceitos, melhorar a cultura cívica, acho lindo.

    Procurar encontrar soluções menores para males maiores (legislar sobre a matéria, ainda que não seja isso que até agora esteja em questão) é não enquadrar a coisa no quadro certo.

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  3. Concordo com o seu post Rosa, realmente não me parece que "legislar sobre o piropo" num momento de crise como o que vive o nosso país, seja assim tão urgente. E como referiu, a discriminação pode vir de qualquer lado e das mais variadas formas. O impedimento "subtil" do acesso das mulheres a cargos de chefia é um bom exemplo dessa discriminação velada. Beijinhos e continuação de bons textos/posts!

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