Um fenómeno muito vulgar, ao qual tive o (des)prazer de me dedicar a observar nestas férias, é o pobre coitadismo. Agosto é tempo de sopas e descanso (vá, gelados e descanso) para muitos, mas para outros é sinónimo de penar. E penar à grande.
Famílias inteiras, eles com as malas a tiracolo, uma criança num braço e a mão a empurrar o outro carrinho, enquanto elas lhes comiam o cérebro à colher em tom menos simpático e as crianças choravam e esperneavam, fez-me pensar: mas eles aguentam isto?!
Ou elas, a cuidar, banhar, vestir e tratar dos 3 filhos, enquanto eles nem perdiam dois minutos a olhar para elas, preferindo a atenção da televisão, que passava um jogo qualquer, ou contabilizar as bolhinhas que as cervejas têm, em vez de conversar. O que só me fez pensar: mas elas aguentam isto?!
É verdade, só quem está nelas é que sabe o que se lá passa, mas, bem, se não queriam olhares atentos, talvez devessem ponderar os decibéis com que nos presenteavam.
Foi oficial, efectivamente os casais com que nos deparámos estavam em baixa, quando as férias servem para retemperar relações que sofrem, muitas vezes o resto do ano, de falta de cuidados.
Colocando-me na cabeça daqueles tipos, que se apresentavam logo pela manhã com ar de Calimeros, depositando toda a leveza de espírito nos momentos em que tentavam ler o jornal: estou aqui, de férias, passo o ano todo a trabalhar, ando stressado, não sei sequer se vou continuar a ter ou não emprego, a minha mulher está constantemente a implicar e nem sequer passou uma escova no cabelo, ou sequer fomos para a cama esta semana.
Colocando-me na cabeça delas: tenho de ser tudo para toda a gente, mãe, mulher, amante, amiga, trabalhadora, mulher-a-dias e o diabo a sete. Este caramelo tem a vida facilitada e nem sabe a sorte que tem, mas ainda me olha de lado para aquelas pitas todas compostas. Hei-de esforçar-me para quê? O gajo parece que já nem me deseja. Porra de TPM que me dá uma azia do caraças.
Parece um cenário um pouco negro, sim. No fundo, o que ambas as partes queriam era passar uns dias para renovar energias, mas, ao invés de o fazerem, depositaram as frustações que acumularam durante o ano e esqueceram-se do mais importante: aproveitar a companhia um do outro.
Grande texto e grande verdade.
ResponderExcluirAo que acrescento, aproveitar os filhos, porque pelo que observo a maior parte dos pais, nas ferias, contam os minutos para que os miudos voltem á escola, pois não sabem lidar com eles...... e isso é muito deprimente.
Todos são vitimas e todos são culpados.
Oh rapariga agora é que disseste tudo! Acho que as pessoas cada vez menos aproveitam a companhia umas das outras. O meu Bomboco hoje não quis a minha companhia, paciência. Mas claro que há sempre expectativas defraudadas, frustrações e depois é uma bola de neve.
ResponderExcluirÉ engraçado mas desde que casamos, vai fazer 9 anos, foi a primera vez que não fomos em regime tudo incluido(com duas crianças já começa a ser um valor puxadote)e optamos por ir 15 dias para um apartamento no Algarve. E foi a primeira vez que não nos chateamos nas férias. Acho que ajuda o facto de termos que nos desdobrar na logistica de cozinhar,arrumar, dar banho aos miudos etc... em vez de alapa, levanta, come, torna a alapar, deixa muito tempo livre para picuices e só iamos uma semana. Depois tinhamos horarios para o pequeno-almoço, para almoçar, uma seca. Desta vez comiamos à hora que nos apetecia. Se tivemos mais trabalho? sim, mas viemos muito mais unidos como familia. Notei principalmente a diferença dos miúdos com o meu marido. Ele acaba por passar pouco tempo com eles, pois tem um horário bastante exigente e queixava-se que os miudos não lhe ligavam nenhuma, e eu sempre lhe disse que tinha que passar mais tempo com eles, e é incrivel ver como nestas férias eles mudaram de atitude com o pai, precisamente por isso, porque o pai deu-lhes toda a atenção. As férias servem para relaxar, para passar tempo com a nossa familia, o tempo que não conseguimos que se estique durante o ano. A meu ver se a relação está mal as férias só tendem a piorar as coisas porque as pessoas passam o dia todo juntas, a não ser como seja como tu dizes, uns ficam com os miudos enquanto os outros fazem o que lhes apetece, o que é ainda mais triste.
ResponderExcluiré precisamente nessas alturas que, por qualquer coincidência cósmica ou astral ou destino ou sei la, pode precisamente aparecer um príncipe ou princesa encantado (a) e la se vai uma ralação, que é como quem diz, surge a traição.
ResponderExcluirO problema é que quando o problema é entre os actores principais, mudar o cenário já não resolve a coisa. E a rotina é só uma desculpa, porque a rotina é algo inerente a uma relação com alguma duração. Não tem que ser dominante, mas será sempre existente...
ResponderExcluirÉ a velha história dos casos crónicos de "bem, não tenho nada para te dizer, e que tal casarmos?", seguido de "Bem, já casámos mas continuo a não ver muito a acontecer...e que tal se tivermos um filho?". E, pelo meio, o tempo vai passando e o desencanto não tira férias.
Quando as pessoas começam a encarar uma relação como um emprego, à espera de algo melhor ou remediando com o que se tem, é triste. É triste, porque é uma realidade frequente e porque esse lado da vida devia ser tudo menos um fardo.
Mas pronto, num lado mais light de férias e casais, esta piada é um must - http://www.youtube.com/watch?v=_3CW35YPvSo