Andamos todos muito sensíveis com esta questão do dinheiro.
Se têm às carradas e o gastam, muito bem, devem ser livres de o gastar onde quiserem (Olá Lorenzo, queres o meu NIB?). Se não o têm e aspiram a ter para adquirir futilidades, muito mal, deviam ser enxovalhados e ter vergonha (Então Pêpa, como vai a mala?).
Ou seja, nós gostamos mesmo é da polémica e de extravazar raivosamente através de um teclado as nossas posições tão válidas. Mas vejamos a questão com atenção:
Aquilo que as pessoas não gostam é de não ter dinheiro, ou ter de viver muito regradamente para conseguir subsistir. Obviamente ficando incomodadas, quando vêem pessoas que podem ter uma vida inteira com muito mais do que precisam, havendo outros que passam dificuldades. Na mesma moeda, não apreciam, contudo, que figuras públicas - sem moral para o fazer - critiquem quem esbanja o dinheiro a bel prazer e não se preocupa com o samaritanismo.
A mim perturba-me que cada vez mais pessoas passem os finais de dia a vasculhar caixotes do lixo, à espera da próxima refeição. Não vivo em nenhuma zona fina, mas também não vivo propriamente numa zona má e infelizmente este cenário é muito frequente. É precisa uma resposta social? É. Infelizmente ela não vai vir de milionários. Os milionários não têm vizinhos que vasculham o lixo. Não fazem compras nas ruas que têm pedintes. O telejornal devolve-lhes as notícias, mas é como quando vemos um tufão nos States: temos pena, mas não é connosco. Ou seja, não estão assim tão por dentro das questões sociais, nem se sentem no dever de abdicar das suas coisas para suprir necessidades dos outros. Esse papel seria do Estado. É válido, obviamente, não vivemos numa comunidade na verdadeira acepção da palavra e ninguém anda a concorrer para Miss Calcutá.
Assim, talvez fosse mais produtivo preocuparmo-nos com as nossas contas. Com a ajuda que podemos (ou não) dar. Porque perder tempo a criticar os sapatos da Judite, ou se o Lorenzo tem uma mesada de meio milhão, ou se a Pêpa quer uma mala para 2014, é apenas isso: perder tempo.
Enquanto esse tempo passa, a cada minuto, mais uma família está demasiado preocupada com a sua própria vida, para ter disponibilidade mental de criticar essas coisas. Para eles, não há tempo.
Nem acesso à net, provavelmente.
Sentimos que devemos ter uma voz, que devemos criticar e que devemos fazer-nos ouvir. Que devemos falar pelos outros, pelos que têm dificuldades. Mas o simples facto de falarmos, significa que não estamos assim tão mal. Se não estamos assim tão mal, não poderíamos abdicar de parte do que temos, para os outros? Ou isso é só tarefa dos ricos?
"Porque perder tempo a criticar os sapatos da Judite, ou se o Lorenzo tem uma mesada de meio milhão, ou se a Pêpa quer uma mala para 2014, é apenas isso: perder tempo" - é isso mesmo. Clap clap clap...
ResponderExcluirConcordo. Eu sempre que posso, e não ando a nadar em dinheiro, ajudo á minha maneira. Mas não critico quem tem muito, critico apenas quem é invejoso e tem a mania de falar pelos outros.
ResponderExcluirPaulinha
Só tenho a aplaudir. Muito bom. Eu procuro ajudar sempre na medida das minhas possibilidades, faço voluntariado. Eu admito que faço algumas críticas como fiz à Pepa e à Judite, porque quer num caso, quer noutro, me pareceram figuras muito fora de contexto e com comportamentos públicos menos razoáveis.
ResponderExcluirTouché! É bem mais fácil dizer mal à frente de um ecrã
ResponderExcluirGostei muito do teu texto! Concordo plenamente!
ResponderExcluirA verdade é q estaríamos todos bem melhor se cada um olhasse por si próprio e para si próprio!
Há muita coisa que se pode fazer para ajudar, só que nem toda a gente está disposta a isso, mesmo aquelas com uma qualidade de vida média.
ResponderExcluirAiii, ri-me tanto com o teu comentário: "Judite?" Não poderia concordar mais!
ResponderExcluirO quê??? Agora os ricos é que deveriam fazer o papel do Estado??? Alguns podem e são solidários mas não têm nenhuma obrigação de o ser.
ResponderExcluirPara quem pense que sou rico não sou. Sou um remediado como a maioria dos que por aqui se intitulam de pobres mas têm internet. Pobres talvez só de espírito porque pobre que é pobre não tem que comer, muito menos internet.
Muito, muito bom!!
ResponderExcluirGostei muito do conteudo,subscrevi,bjinhos
ResponderExcluirEscreveste tudo aquilo que eu penso e de uma forma magistral! Clap, clap, clap! Ultimamente tenho notado esse movimento "se-tens-dinheiro-a-mais-deves-dar-aos-pobres" e começo a ficar preocupada... A sério que as pessoas acham que são as pessoas com alguma condição financeira que têm que abdicar das suas coisas para distribuir entre os que nada têm? Eu faço a minha parte e tenho a minha consciência tranquila mas parece nunca ser o suficiente para esta gente que adora acusar. Pobres são estes... os de espírito.
ResponderExcluirSo so true... Duma ponta à outra.
ResponderExcluirBeijinho
Sílvia
nomundodesilvia.blogspot.pt
So so true... Duma ponta à outra.
ResponderExcluirBeijinho
Sílvia
nomundodesilvia.blogspot.pt
Gostei muito! Bem escrito.
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