Ir ao Ikea.

Sim, ontem fomos ao Ikea.
Levar um homem ao Ikea é mais ou menos como obrigar uma criança a não fazer barulho na missa - quase missão impossível, a menos que sob uma combinação caseira de estupefacientes.
Há toda uma encenação por detrás da fronte masculina, muito treino de ar de enfado, muitos suspiros, muito decorar de simples frases como "não interessa o que disser, vais levar o que escolheres" ou "o que eu queria mesmo para a sala era um LCD", olhinhos de bóbi e, no mínimo, três paragens na casa-de-banho porque "se bebeu suminho a mais".
Compreendam uma coisa: nós vemos aquelas coisas catitas e pensamos no nosso lar, no nosso nicho devidamente decorado, as coisinhas montadas, quase que nos emocionamos quando vemos um preço ainda por cima jeitoso, imaginando-nos naquela sala fofinha de cabecita encostada ao vosso ombro. Não pensamos que vos doem os pés, que não ligam a decoração, que estão fartos de estar ali a andar para um lado e para o outro.
E eu juro que até sou querida, não páro em todo o lado, não o maço com "e agora vamos ver isto", "e agora vamos ver os copos" e "agora os jogos de cama". Nada disso. Até costumo ser in&out.
Como ainda não chegou cá aquela secção do Ikea-para-homens com jogos de playstation e afins, temos de os tratar como são: pequenas crianças.
Pequenas crianças que se desviamos o olhar já estão praticamente de mão dada com outra família.
Pequenas crianças que tentam interagir com tudo. Que num minuto dizem: tenho sede e no outro: tenho de ir fazer xixi. Que tentam ler todas as placas de informação em sueco em voz alta. Que depois já têm afinal fome.
No fundo, pequenas crianças que quase simulam um ataque epiléptico só para sair dali mais depressa.
Resumindo e concluindo: Eu noutra vida fui um buda.