10.1.10

Estamos sempre de saída. Estamos sempre de chegada.



Subia aquelas escadas com o coração em crescendo. O som dos saltos a cada passo. Aconchegava melhor o casaco branco, a destoar da noite que já se fazia sentir. Com os olhos postos no relógio a contar os segundos que faltavam para te ver, agradecia em silêncio o quão bem sabes tomar conta de mim. Mordia o lábio com o semi-sorriso que me assoma sempre que a cada quilómetro que passa estás mais perto.

O vento gelado na cara, o cabelo a perder a impecabilidade que gosta de ter, os olhos alternando entre as linhas dos carris e o relógio a assinalar-me o teu regresso iminente.

Trrriiiiiimmmmmm. Trrrrrrrrrriiiiiiiimmmmmmmmmmmmmm.
Trrrrrrrrrriiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm.

O comboio passava-me à frente do olhar e eu demorei-me em milissegundos a correr as carruagens na esperança de ver o teu sorriso pela janela. De te marcar o lugar onde largos minutos antes permanecias e me fazias permanecer no teu pensamento.

Burburinhos. Chegadas. Abraços alheios. E eu ali. A olhar cada cara na esperança de te reconhecer. A correr cada pessoa que pisava a plataforma quantas vezes fosse preciso. Ali. Com o melhor ar de menina que ficou escolhida em último.

Pouco a pouco esvaziava-se a estação e olhava eu agora para o horizonte oposto, vislumbrando se no meio de pessoas e malas te poderia ter perdido. Se por um qualquer acaso não teria sentido eu a indiferença de te deixar escapar.

Senti um arrepio e virei-me para trás. Cruzei o olhar com o teu e foi como se chegasse, finalmente, a casa.
Sorri devagar, nem espelhando a alegria que me corre sempre que te vejo.
Sempre que te vi. Desde que te vi.

À medida que colocaste os braços à minha volta só pude ouvir:

Tum-tum, tum-tum.
Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.
Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.
Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.Tum-tum, tum-tum.


Já nem sabendo se o meu batia, senti, enfim, que o teu batia por mim.

*estrategicamente ficcionado por Rosa Cueca a um Domingo à noite.

26 comentários:

  1. Ai Cueqinha, vou soltar uma lagriminha...snif snif =)

    ResponderExcluir
  2. Será que foi sonho ou real?

    ResponderExcluir
  3. Andie, nada de brincar com o lado sensível da Cueca (lol)

    Mister,...fica a dúvida.

    ResponderExcluir
  4. Não fiques assim, passa pelo meu blog e ri e diverte-te

    ResponderExcluir
  5. Obrigado *.*

    A musica faz parte da banda sonora do meu filme preferido 500 days of summer

    ResponderExcluir
  6. Tumm tummm tummm tummm....
    Acho que era o comboio a passar por cima de algo...
    Tens a certeza que ninguém caiu na linha?

    ResponderExcluir
  7. Ficionado (ou não), o momento não poderia ter sido melhor descrito. Nestes momentos, numa estação ruídosa, poder ouvir um coração, é de algo de...delícioso (vou ali chicotear-me sim Cueca?)

    ResponderExcluir
  8. Lindo :)
    Descrição brilhante. Parecia que estava mesmo lá na estação :)

    ResponderExcluir
  9. marivilhosa imaginaçao...

    gostei imenso

    beijinhos

    ResponderExcluir
  10. N sei se é sério, se imaginado. Que seja a sério :)

    ResponderExcluir
  11. Cláudio ;) também adorei o filme.

    MC, vou fazer por isso.

    Miss, ainda que esse facto muito te aprouvesse, não. Mas é de não perder a esperança.

    Pipoca, o chicote dá jeito nestes momentos. Bem, noutros também.

    Alexandre, ainda bem :)

    Luna, eu gosto de descrições assim, vívidas.

    Violeta, há coisas assim, que nos inspiram..

    Kiss, lol...

    CF, :)

    ResponderExcluir
  12. Ficcionado ou não, o texto está vívido de tal forma que dá a sensação de se estar lá...

    E o tempo não é mais que uma mera lei da física.

    ResponderExcluir
  13. Bonita descrição! Dixit


    Ass: Um gajo bué anónimo

    ResponderExcluir
  14. Dexter, veja lá não caia na plataforma então lol

    Jns, até fico comovida de vires aqui comentar :) (juro que até estou a ser sincera, estou a fazer um ar honesto de pastorinha e tudo)

    ResponderExcluir
  15. Isto, no fundo, é tudo uma questão de colocação ora da voz, ora da escrita :)

    Como eu costumo dizer (das minhas expressões parvas favoritas) obrigado por seres quem e como és loool

    Ass: O gajo bué anónimo de há bocado (sim porque não se escreve "à bocado")

    ResponderExcluir
  16. Grande nível... não era nada do que esperava da "ficção da cueca", mas enfim, não se pode ter tudo :p

    ResponderExcluir
  17. Ora pois cá eu acho... que pela bela descrição, mas especialmentepelas onomatopeias,isso não seria no apeadeiro do Retaxo certamente.

    Imaginei a cena em plena Estação do Oriente... parece-te bem? :P

    ResponderExcluir
  18. tão cutxi...lembra-me um dito post no extinto 'cala a minha boca com a tua' ... (esse grande blog de grandes autores 'desconhecidos') lol
    tão fofi.. :P aiai...glitter, sparks... tra la la las... tum tum tum tum tum tum... :D
    beijinho amora

    ResponderExcluir
  19. Não sei se a tua história é real ou não, que realmente está bem contada, bem sentida, que parece que senti todas essas sensações, essas emoções, mas sendo real ou não, posso te dizer que já vivi exactamente essa história que tu acabas-te de descrever a unica diferença é que tinha um casaco preto e não branco :) de resto era exactamente assim e foi uma sensação unica ;)

    ResponderExcluir
  20. Olha se me acontecesse algo assim eu não dizia que não! Brilhante o teu lado sensivel :D *

    ResponderExcluir
  21. Momento cinematográfico! Quase consegui ver-te. E apesar do cabelo desalinhado, tenho a certeza que a protagonista estava linda na plataforma de desembarque. Cueca linda por dentro e por fora.
    :)

    P.S: E deve ser tão sentie que alguém cuida assim tão bem nós...

    ResponderExcluir
  22. Jns, no finalzinho desse agradecimento eu gosto de usar o "fica bem", é um clássico já.

    Luís, mas se eu escrevesse sobre o conflito interior dos pandas gostavas mais?

    JD, é uma estação que aprecio bastante sim, :)

    Ana, sim eu tenho noção do nível de mete nojice inerente lol mimimi *

    Guerreira a indumentária é sempre um pormenor quando o sentimento está lá.

    Celinha, é verdade, não sou sempre rude. :P

    LN, estragas-me com mimos com as tuas palavras é o que é e eu sou uma muxi-muxi do pior :)

    ResponderExcluir
  23. Cueca até parece que pensei isso de ti algum dia! :D Rai´s ta parta! :P

    ResponderExcluir