21.7.15

Why u no fun?!

Hoje falo daquele momento da vida adulta em que pensamos genuinamente:
quando é que deixei de ser divertido/a?
São momentos introspectivos, de aborrecimento profundo para com a vida do quotidiano, onde nos escusamos a ver a resposta certa: nunca.

Não acordámos um dia e ficámos capazes de adormecer monocordicamente uma grupeta de velhotes da Santa Casa. Não deixámos de nos querer divertir numa discoteca, ou exibir os nossos passitos bailantes com uma vodka limão na mão. Também não nos tornámos taciturnos e incapazes de encarar a vida com o sentido de humor que ela nos exige.
 
Algures, alguns adultos construíram uma prisão e entraram nela de forma voluntária, apenas para depois se vitimizarem com o facto de lá estarem, suspirando todos os dias pela vida lá fora.
Soa a treta neo-hippie isto de construirmos as nossas próprias prisões e limitarmo-nos no dia-a-dia às coisas que temos de fazer, em detrimento das que queremos, mas todos conhecemos alguém permanentemente insatisfeito, sendo que às vezes ele está a olhar-nos de volta no espelho.
 
Uma das coisas boas de se ser criança é achar que quando formos adultos seremos livres. 
A resposta a "porque queres ser grande?" é sempre "para fazer o que me apetecer", portanto é apenas irónico que, quando chegamos à vida adulta, não façamos o que nos apetece.
É também irónico que ser-se livre signifique fazer o que nos apetece.
Liberdade não é fazermos tudo o que nos apetece, é sabermos as consequências de fazermos tudo o que nos apetece, mas decidir em conformidade e consciência.
 
Não nos tornámos, definitivamente, menos divertidos. Tornámo-nos mais conscientes.
Aprendemos que há tempo para tudo, que as exigências do dia-a-dia também são o que confere ordem ao nosso mundo e aprendemos, acima disso, que faz bem desaprender as regras demasiado rígidas, abolir de vez em quando os fretes e soltar a nossa criança interior, sabendo que no dia seguinte tudo volta à normalidade, vestiremos a pele de crescidos sérios.

6 comentários:

  1. Muito bem, um texto bem retrospectivo que ilustra perfeitamente a nossa vida.

    ResponderExcluir
  2. Discordo um pouco.
    Acho mesmo que vamos ficando um bocado mais aborrecidos e não é por tomarmos mais consciência das responsabilidades. É mesmo pela pressão social do "não faças isto", "não faças aquilo".
    Eu próprio que sou um anti-pressão social já noto uma diferença em mim à conta disso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Temos essa pressão para agir em conformidade desde sempre. Começa nas regras para agir em sociedade.
      Ser socialmente conforme é a norma, mas podemos sempre desviar-nos dela em alguns pontos, em outros nem sequer considero propriamente positivo que isso aconteça (quando falamos em esquema de valores/princípios por exemplo), mas isso são outros quinhentos.
      Aqui falo nas pequenas coisas que fazem parte da nossa personalidade, manter os pequenos prazeres, poder não ser sempre sério, escolher não nos conformarmos com tudo...no fundo, negar o que somos em prol do que os outros esperam de nós.

      Excluir
  3. Corroboro o que disse ali a Cynthia. Boring as hell.

    ResponderExcluir