25.11.14

Aquela noção de que os meus pais se estavam um bocado nas tintas e como isso não é mau de todo.

Não me lembro de ter muitas festas de anos. As que tive metiam o bolo normal, com aquele recheio de doce de ovos excessivamente doce em pão de ló, com direito a uma rosinha, das quais só comia as pétalas. Não tive cake design, nem balões de meio metro a indicar a minha idade, nem hélio para que chegassem ao tecto, macarons ou pequeninas lembranças para os amigos levarem.
Damn, as minhas festas não tinham "tema".
 
Não me lembro de ter muitos brinquedos e, os poucos que tive, acabaram maioritariamente em outras casas de miúdos mais pequenos que eu. Uma espécie de reciclagem. O que faz com que me restem os ursos  "Senhor Castanho" e "Senhor Arco-íris" e umas duas Barbies que sofreram um corte de cabelo radical.
 
Não me lembro de muitos Natais com direito a Pai Natal. Na verdade foi só um, tinha 3 anos e percebi que o Pai Natal não existe, era o meu tio. Como não havia lojas chinesas o fato também não era o mais plausível possível. 
Nunca houve muitas prendas e a lista que fazia escrupolosamente nunca se tornava realidade.
Um dos melhores Natais foi quando recebi um cão que cantava 6 músicas a ladrar em tons diferentes. Escusado será dizer que se tornou um pesadelo pior que o antecipado, quando andei 4 meses a responder aos meus pais a ladrar. Deram-me um cão. Passou.
 
Não me lembro de colorirem comigo, vermos desenhos animados juntos ou ir ao cinema em família.
Não tive cassetes, nem colecções Disney e vi os Goonies em casa de uma amiga. Os meus filmes eram gravados, às vezes com uns soluços kitsh, do videoclube. Mas vi o ET num campo de férias em Mira, provavelmente 4 anos depois do filme sair.
 
Eu acho que os meus nossos (?) pais fizeram um bom trabalho.
 
P.S. Isto tudo porque vi uma foto antiga de um miúdo de sorriso aberto, olhar de um entusiasmo que já não se vê muito, extasiado por receber um presente que provavelmente pedia há muito. E porque isso hoje é demasiado incomum.

15 comentários:

  1. A minha infância foi mais ou menos assim e não posso dizer que fui uma criança revoltada. Revoltados são todos os desta geração em que lhes falta um belo de estalos. Ah, pois, não se pode bater nos meninos agora. Ahaha, deixem-me rir com esta. Há uma linha que separa o bater nas crianças para educar e bater para magoar a sério. Mas parece que agora não se apercebem disso e preferem dar tudo às crianças sem lhes ensinar o que aqui importa: lutar pelo que queremos em vez de termos tudo de mão beijada-

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  2. Qualquer dia faço um post sério sobre criancinhas.
    (é mais ou menos por aí, Rosa, fomos felizes, não fomos? E ficávamos genuinamente alegres com o que recebíamos, caramba... um ano de espera...)

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  3. Ah os brinquedos eram um bem tão raro e precioso :) Não é que tenha tido uma infância difícil mas naqueles tempos a família preferia oferecer coisas "úteis" como roupa...Lembro-me de inúmeras birras de desilusão a abrir belos embrulhos que tinham...roupa. Lembro-me também da felicidade suprema que era encontrar um brinquedo no meio daquelas roupas todas....Depois acabava por guardar algumas bonecas, religiosamente, na caixa e não brincava com elas, eram demasiado bonitas, demasiado preciosas, anos depois acabaram por ir parar a casa de miúdas mais novas, lá está:)
    Não tinha muitos brinquedos mas lembro-me de uma infância passada no exterior, a brincar com cavalos de pau,
    a lutar com os meus primos, a fazer bolos de terra ou a fabricar as próprias roupas da minha boneca preferida, da loja dos 300, com a minha amiguinha de infância. As manhãs em que me levantava cedo para ver os desenhos animados, porque não havia TV cabo e video-gravador só tive lá para os 10 anos... Que infância feliz e que saudades :)

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  4. Então mas não dar logo tudo às criancinhas assim que abrem a boca não as vai traumatizar? Então e depois se forem para o colégio (andam sempre em colégios hoje em dia!) sem o brinquedo que toda a gente tem? Ai tu queres é ver crianças traumatizadas por este mundo fora!!!

    (Não vai da época vai da educação! Eu tive isso tudo que descreves no texto, colecções da Disney, fui ver o Rei Leão e a Anastacia à estreia, tive as cassetes de vídeo assim que saíram, tinha festas de anos com bolos gigantes, saquinhos de presentes para os convidados e grandes piñatas! (só não tive macarrons porque isso não havia nos anos 90),tinha mais bonecos do que aqueles com que conseguia brincar.
    A diferença para os miúdos de agora está no facto de que os meus pais não me davam tudo aquilo que queria quando eu pedia, esperavam para me dar em ocasiões importantes (e obviamente não me davam tudo o que desejava) e à conta disso eu nunca fui miúda de birras nem me comportar mal, até porque se isso acontecesse levava uma palmada. Se eu fizesse birra aí tinha a certeza que não ia ter o que pedi. A minha brincadeira favorita não eram os bonecos mas sim jogos e brincadeiras na rua. A prova de que os meus pais souberam dar uma boa educação também está na minha irmã que é uns valentes anos mais nova que eu e que já nasceu nesta geração insaciável e no entanto, no meio deste consumismo todo, a melhor prenda que já alguma vez recebeu foi um cão. As crianças não precisam de coisas complicadas para serem felizes!)

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  5. É preciso ter em atenção que os nossos pais ainda menos coisas tinham.
    A forma de educar (também) vai evoluindo ao longo do tempo, só que há muitos pais que, ou não evoluem ou fazem-no demasiado depressa, saltando várias etapas.

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  6. Bons velhos tempos, é o que digo.
    Acho que os meus pais fizeram um óptimo trabalho (e se eu saí assim, tenho de dizer que a culpa é TO-DA minha).
    Nunca acreditei no Pai Natal, nunca vi nenhum. Falaram-me em Menino Jesus e que, em crianças, deixavam o sapatinho na lareira. Fiz o mesmo e foi o primeiro grande dilema da minha vida: eu não tinha lareira. Embora desconfiasse seriamente que não ia resultar, decidi deixar o meu sapatinho debaixo do exaustor. O meu sexto sentido já era apuradíssimo e, na manhã seguinte quando lá cheguei, os sapatos estavam vazios, os dois arrumadinhos a um canto no chão.
    O Menino Jesus não me deixou nada nos sapatinhos, mas arrumou-mos.

    Ora nunca alimentei grandes ilusões. Mas tive sempre árvore de natal e prendas, poucas, mas boas. Dei sempre valor ao que tinha, vibrava com tudo.

    Os meus pais acederam a alguns caprichos mas disseram "não" a muitos. Não me fizeram festas temáticas; não me mostraram o Pai Natal; não me fizeram acreditar no Menino Jesus; não me deram mais Barbies; não me levaram ao Portugal dos Pequeninos, não (....)
    Mas incutiram-me valores e princípios. E com isso, posso dizer que me deram o mais importante, o essencial para eu poder vir a conseguir tudo o que quero na vida.

    Bons velhos tempos.

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  7. mudam-se os tempos e mudam-se as vontades.
    as crianças tem que se lhe incutir o espirito de merecer as coisas, como bom pai que sou estabeleço metas que devem ser atengidas pelo meu filho. grande parte das vezes não as atinge como tal é responsabilizado por não ter direito as coisas que pede, tambem se deve incutir o valor do dinheiro, explicar-se que se se gastar € naquilo vai faltarpara comprar a carne o peixe e outras coisas que realmente fazem falta.

    PS. quando pequeno nunca tive uma festa de aniversario, apenas um beijinho de parabens dos meus pais, a minha primeira bicicleta tive-a aos 10/11 anos, no inicio dos anos 80 existia um computador " ZX SPECTRUM 48K" todos os meus aigos tinham um eu apenas o consegui quando um desses amigos comprou um muito melhor e me deu o dele que obviamente vinha todo partido, mas foram bons anos, brinquei muito na rua, ficava na rua até as 9 / 10 horas da noite no verão. coisas que hoje não vejo os miudos de 10 anos fazerem.

    PS2 na parte de educação não acredito na violencia em quase 9 anos que o meu filho tem apenas lhe bati uma vez quando ia a caminho da lousã (vomitou-me o carro todo), saltou-me a tampa pela forma como aquilo aconteceu, se fosse hoje o mais natural era não lhe dar as palmadas no rabo que lhe dei.

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  8. Engraçado que falas disso como se esse tipo de educação tivesse sido há muito tempo, mas eu tive uma infância tal e qual, e sou só uma pirralha de 22 anos. O auge da minha infância foi o dia em que a minha avó me fez um baloiço: uma chapa dobrada atada com cordas, que ainda hoje está debaixo da macieira do quintal dela. Foi o auge da minha infância porque um baloiço era coisa de meninos ricos. E eu queria lá saber se o meu baloiço não era feito de plástico amarelo lustroso mas sim de um material random encontrado na garagem que provavelmente me poderia ter causado tétano nalgum acidente. Eu queria era baloiçar durante tardes inteiras e assim foi :)

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  9. Concordo contigo. Também não tive nada disso. E já me dava por feliz quando a minha prima mais velha me dava os brinquedos que ela deixara de gostar. E quando tinha mais idade já tinha que fazer uns trabalhinhos para "merecer" o que pedia. E no entando acho que saí uma pessoa porreira e responsável e que dá, sobretudo, muito valor a tudo o que tem

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  10. A verdade é que somos nós que criamos estas crianças que tanto criticamos. Ou não?
    Tive uma infância simples, com um Natal na Serra da Estrela numa pensão sem prendas porque o "Pai Natal não podia vir entregar a todas as crianças que viajam no Natal", e só abria dia 27, quando chegava a casa. Se foi uma infância triste? Não, não foi, mas foi a educação que tive, não comprar o que não posso. As minhas sobrinhas têm o mesmo tipo de educação, podem pedir, nem sempre são atendidas.
    Gosto das teorias que as crianças de hoje não podem ser contrariadas, e pelo que leio, e pelas criticas, parece que vamos ter agora uma nova geração sem futilidades e sem birras e com prendas veradeiramente desejadas, porque somos nós, que temos o poder de mudar essas crianças caprichosas, ou estarei errada?
    Vivo em África, e com um bebé pequeno e com um estilo de vida simples, sei perfeitamente que o meu filho será um menino "rico" aqui, mas cabe a mim mostrar-lhe a realidade. E a realidade não é mostrar meninos com fome, é mostrar que nem sempre se pode comprar tudo. E para mim, aqui está a dificuldade!

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    1. Não vou "encher o peito", salvo seja, mas o meu filho nem quatro anos tem e responde às Educadoras coisas como "quero isto, mas agora não pode ser" ou "quero o brinquedo x, mas só esse! que não posso ter mais".
      Mesmo assim eu já "acho" que tem coisas a mais, tento dar-lhe o que sei que ele gosta, mas o que ele valoriza mesmo é o tempo que passamos juntos.

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  11. O problema é que, com a passagem do tempo, deixamos de lhe dar valor.
    As minhas melhores memórias em miúda são de passar horas a fio a jogar à bola com o meu pai - que coitado, tentava a todo custo alimentar a minha veia maria-rapaz - ou de fazer figuras com a massa que sobrava dos rissois da minha mãe, como se fossem plasticina.
    felizmente, naquela altura o tempo passava de facto mais devagar. nós sabiamos que os brinquedos que passavam na tv com a musica da leopoldina eram os mesmos ano após ano e tínhamos noção (porque nos era incutido) de que alguns brinquedos existiam mas não para o bolso dos nossos pais, como se fossem o Dubai dos brinquedos. Ainda assim, resistia aquela esperança de que talvez para o ano fosse possível, ainda que soubessemos que não o era.
    Hoje em dia o tempo passa de forma tão fugaz que mesmo nós, adultos, adquirimos uma consciência de que tem tudo de acontecer para ontem, de que se não tivermos agora então podemos depois não vir a ter e é uma chatice. Fazemos em adultos as birras que não nos foram permitidas em criança!
    E é triste vermos esta tentativa de colmatar qualquer falha de atenção, de afecto, de tempo e de alegria com prendas e , pasmem-se, bilhetes de concertos de 500€. Que possamos dar algo que não tivemos e queiramos o melhor para as crianças, concordo. Mas que seja ao menos algo que lhes faça efectivamente falta.
    Tenho muito medo de um dia vir a ser mãe e não conseguir impedir que o meu filho viva num mundo assim. E mais ainda temo um dia vir a ser mãe e esta minha forma de pensar não ser suficiente para contrariar um mundo de facilitismos, memórias vazias e papeis de embrulho da primark.

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  12. No ano passado fomos buscar uma prenda à Disney (loja) - a do Pai Natal - entre ver a loja com o miúdo e o pai comprar a dita sem que ele se apercebesse apareceu uma empregada da loja. O discurso dela para o meu filho foi mais ou menos assim:

    - "que vieste fazer"?
    - "vim passear e escolhi a prenda que vou pedir ao pai natal".
    - "só uma porquê portaste-te mal este ano?!"

    Pois. Eu disse-lhe que se ele se portasse mal que o Pai Natal não lhe daria era prenda nenhuma pois o pai natal não recompensava meninos mal educados.

    Isto para dizer o quê? O mal não é da geração , não são as tecnologias mas sim os pais.
    Na minha geração também se dizia que não haveria infância como no tempo deles. Ainda bem que não... no tempo da minha avó as crianças passavam fome, muitas morriam por falta de terem as necessidades básicas suprimidas, outras tantas morriam devido a acidentes que aconteciam por ficarem a tomar conta dos irmãos mais novos.

    No meu tempo tive um Nintendo como prenda de anos que ainda hoje funciona, tive as brincadeiras na rua até às tantas da noite sem que ninguém se preocupasse connosco. Mas olhando para trás, houve muita negligência, muita falta de maturidade (dos meus pais e dos pais dos outros), muita falta de noção.. não acho normal que os meus pais me tenham deixado desde os 7 anos com um bebé, recém-nascido a tomar conta sempre que eu estava de férias "para poupar" e era eu quem tomava conta dele quando ele estava em casa.

    Por isso, não glorifiquem os anos que passaram porque nem tudo eram rosas, claro que consoante os anos passam ficam mais boas memórias que más mas não nos esqueçamos que antigamente as crianças "podiam" ir a pé para a escola porque ninguém se importava muito se o "tipo estranho" estava lá ou não. [e eu sei do que falo porque no meu caminho tinha que passar pelo monte e por uma ponte bem isolada onde volta e meia estava um velho tarado e sabíamos - todas - que ou corríamos ou algo de mau nos aconteceria, apesar de nunca ninguém nos ter explicado o que seria o "mau"], porque não havia metade da informação, metade dos conhecimentos. Antigamente só uma parte priveligiada é que tinha professores na escola, a maioria aprendia por uma televisão. A maioria das crianças andavam em turmas onde se juntavam vários anos de escolaridade, a maioria tinha frio ou fome. Não tinha acesso à cultura, a teatros, ao cinema, a museus... a nada.

    As crianças estavam na rua até às 22h, estavam em casa de qualquer um sem que os pais se preocupassem. Muitos tinham pais que preferiam ir gastar o pouco que tinham nos cafés a dar-lhes um par de sapatos ou sequer uma sopa mais consistente...

    Se eram felizes? Claro que sim... os ingénuos e ingorante estão sempre bem. Aliás o nosso Estado gostava particularmente das pessoas assim: incultas. Porque um povo sem educação é muito mais fácil de manipular.

    Por isso, se querem fazer algo construtivo dêem aos vossos filhos acesso à educação, ao amor e à cultura, dêem-lhes limites e regras e a infância deles ultrapassará a qualidade da vossa a milhas.

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    1. Bravo, Anónimo. Nasci em '80 e vejo grandes exultações ao passado, do tipo "brincávamos e caíamos e esfolávamos os joelhos e quem não tinha brinquedos era feliz à mesma". Ora, lembro-me de em miúda ver os anúncios de "desaparecidos" no canal 2, lembro-me de ter visto artigos sobre abusos cometidos sobre crianças, lembro-me de quanto era o salário mínimo em 1991, quando estava no 2º ciclo. Aquela época era como todas as outras: uns eram felizes, outros, menos felizes, e uns, eram desgraçados.
      Por outro lado, porém, percebo perfeitamente a autora do blog quando fala no episódio do miúdo, a que assistiu. Fico surpreendida nestes tempos de fartura, em ver crianças extasiadas por lhes oferecerem um cãozinho ou um gatinho, ou a implorarem por um brinquedo. Quem passou o antigamente, imagina os miúdos vidrados em gadets e uns insatisfeitos de primeira.

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