30.10.14

Mães-recentes e Godzillas, os incompreendidos.

Quem não conhece a bela criatura, afável e doce, sempre com uma palavra amiga, que é o Godzilla?
Apesar do seu exterior bruto e atabalhoado, ele só quer ser nosso amigo!
As mães recentes também.

Na verdade, depois de seres mãe, as pessoas esperam que brilhes ao melhor estilo twilight e irradies felicidade pelos poros, como se quando espirrasses saltassem purpurinas prateadas por todo o lado.
O problema é uma coisa que se chama "realidade" (e também limpar a porcaria dos brilhantes de todo o lado, por deus, não dá jeito nenhum, já temos muito que fazer!).

Acham que alguém perguntou ao Godzilla porque raios ele começou a correr os prédios ao desbarato e a comer pessoas?!
Possivelmente porque alguém lhe disse:

Porque estás a reagir dessa forma?
Isso são as hormonas, não são!?

Resumindo: não bastava as nossas amigas hormonas perseguirem-nos como um stalker durante 9 meses, toma lá mais uns 5 ou 6 de descompensação hormonal que nos deixa o cabelo numa lástima, o perímetro abdominal em modo little-michelin, os nervos em franja e uma súbita vontade de chorar ao ver o Save the dress no TLC (com um pequeno zapping na MTV para o Teen Mom, porque mesmo assim apreciamos a ironia da vida).

É apenas compreensível que o humor da mãe-recente não seja o mais cutchi possível, muito embora não nos fartemos de ressalvar a maravilha do milagre humano com um sorriso no rosto, enquanto contamos todas as gracinhas que a cria já faz (e esperamos secretamente que ninguém esteja em segredo na cozinha a ligar para uma assistente social).

Dizer que ser uma mãe recente é ser um Godzilla é excessivo, concedo, mas quem nunca soube identificar nas suas mães aquele olhar de estou-a-dar-o-tilt enquanto sorriem abstractamente e tremem do olho esquerdo, naquele momento pré a sentirmos uma vigorosa palmada no traseiro que iremos relembrar nos minutos seguintes, que levante a mão.

P.S. Vocês são pessoas extremamente fofas por conseguirem ler as minhas frases excessivamente longas. Prometo um post telegráfico para a próxima. Tudo por vós.

8 comentários:

  1. O teu texto faz todo o sentido ! Eu mãe de dois, ainda sinto isso a dobrar! E sim, quantas vezes eu digo na brincadeira que qualquer dia tenho a Segurança Social a bater-me à porta !

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  2. Rosa... Estou de 7 meses.... Agora a sério.... Tem dó de mim :)
    Cheila

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    1. Não Cheila...vai ser, coff, espectacular! :D

      Agora a sério, temos dias maus e momentos em que nos sentimos especialmente sozinhas, mesmo não estando. Ajuda termos perto quem auxilie, dê uma mão, aconselhe e nos mime - mesmo quando isso acontece, não deixa de ser difícil. Só que como muitas coisas na vida: o mais difícil é o que nos dá maior recompensa.

      Isso e os putos aprenderem desde cedo que dizer coisas como "mãe és linda" e "mão gosto muito de ti" resulta maravilhas quando querem alguma coisa ;)

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    2. Ali em cima não era claramente "mão gosto muito de ti". Isso só uns anos mais tarde.

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  3. Rosa, o que eu queria (mesmo, mesmo, mesmo) era que ela gritasse "Mãe és linda!" durante o parto... A ver se me animava e despoletava a oxitocina... ;)
    Cheila

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    1. Quando foi a minha vez estava assustada, não vou dizer que não.
      Não sabia como era, se ia sofrer horrores, se iria correr bem (e cometi esse grande erro de ler demasiada informação em fóruns).
      Uma semana antes de ter o Gui a minha avó - pessoa muito optimista - diz-me
      (tens de ler com a voz do Bruno Aleixo, porque são iguais):

      - Olha...às vezes as crianças morrem no parto. E tu também podes morrer.

      Agora rio-me, mas na altura não achei particularmente inspirador, como deves calcular.

      De forma sincera digo que o corpo humano é fantástico e estamos preparadas para cumprir o nosso papel de forma biológica. Não senti que fosse assim tão difícil e encarei muito melhor do que pensava as contracções e tudo o que se seguiu.
      As enfermeiras deviam achar que era maluquinha porque a horas de ter o bebé andava a fazer piadas e ria-me. Não sei se era da oxitocina, se era apenas felicidade por ir ter o meu miúdo comigo.
      (isso e deixar de ter a porcaria dos pés inchados e sentir-me um mamute com pernas)

      Em menos de nada vais ter o dia mais importante da tua vida e vais conhecer a tua menina.
      Aquilo que dizem de que esquecemos a dor toda é mesmo verdade, porque sabemos que temos a melhor recompensa assim que terminar.

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    2. É confuso. Durante o próprio processo da gravidez muito de nós se altera, e a percepção do parto não é excepção. O medo reside e permanece, mas tal como dizes, penso que seja importante acreditar na capacidade biológica que nos acompanha há milhares de anos. E sem as nossas condições. E a raça humana não se extinguiu, muito pelo contrário. Mas depois há sempre aquelas "almas caridosas" (algumas delas, amigas) que nos relatam o pior dos cenários. Enfim... Não sei o dia de amanhã, mas sei que independentemente da experiências que me está reservada, quando me deparar com uma mãe de primeira viagem, serei incapaz de entupir-lhe os ouvidos com miminhos como: "Ai filha...... sabes lá o que te espera......", ou perante uma dor de dentes na gravidez (que a tive) dizer: "Ui..... se estás a sofrer com isso vais ver o que é sofrer a bom sofrer daqui a 2 mesinhos......". Tudo coisas que deixam uma pessoa animada, como se sabe!
      Obrigada pela visão não horrífica!
      Cheila

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  4. Posso afogar as minhas ali em 3 cm de água na banheira?

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