23.10.14

"A" conversa.

Todo o adolescente, partindo do pressuposto que o que acontece nos filmes é real, teve "A" conversa acerca do belo mundo da cegonha com os seus pais.
Ora, se há coisa desconfortável, é quebrar os sonhos de todo o filho que julga que os pais não têm sexo. Tiveram uma vez (multiplicar pelo nº de irmãos). Sendo que é melhor nem uma pessoa se debruçar sobre a horribilis imagem mental que se forma nos nossos singelos cérebros.

Felizmente, os meus pais sempre foram pessoas discretas. Isso ou levava com um cocktail-Maddie antes de ir dormir e não dava por nada, mas jamais experienciei a sensação de acordar a meio da noite com barulhos estranhos e sem um animal de estimação a quem se pudesse imputar culpas.

No fundo, acredito que a discrição dos meus pais se devesse ao medo.
Certos pais saberão do que falo: aquele desconforto intrínseco que se sente perante uma criança que faz demasiadas perguntas complicadas de explicar, sem causar traumas para uma vida.

Desta maneira, prontamente me cederam diversas fontes literárias sobre educação sexual.
Acho que o meu primeiro livro do género apareceu devia ter eu uns 7 anos, numas férias na Figueira da Foz, que relembro particularmente devido a ter cortado o dedo anelar esquerdo a cortar batatas e com a leitura desse meu primeiro livro ilustrado.
Não sei o que seria mais pertinente do ponto de vista educacional: deixar a criança com uma coordenação motora deveras paupérrima descascar batatas, ou dar-lhe o livrinho para a mão em modo "ah já viste? tão giro, tem banda desenhada e tudo! O pai e a mãe vão só ali fazer a sesta, tá bem?!".
Resumindo o modus operandi: incutindo sabedoria precocemente evitam-se conversas desconfortáveis.

Não sei como foi lá em vossa casa, mas na minha resultou.
Eu nunca fiz perguntas esquisitas, eles viveram felizes a acreditar na minha ignorância, sem o desconforto de explicar em que buraquinho o coisinho entrava.

Agora que sou mãe, tendo uma perspectiva algo diferente da dos meus pais, temo que me possa tornar naquilo que podemos classificar como a oversharing mom. Ou seja, a mãe demasiado para a frente, ou talvez um pouco gráfica em termos de nomenclatura.
A seu tempo me preocuparei com esta questão, mas, felizmente, tenho um extenso legado ilustrado para apoiar as minhas bases científicas.
(isso e muitos senhores e senhoras dos anos 70 com demasiada pilosidade, sempre em missionário)

11 comentários:

  1. Até agora tenho tido alguma sorte com as perguntas, mas não me parece que dure muito mais tempo. Algo me diz que vou começar a reunir material para quando chegar o dia não acabar a fazer searches esquisitos no Google

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    1. O meu com 3 anos e meio já faz perguntas complicadas.
      O que me vale é que depois da enchurrada de perguntas vem o período do silêncio para eu poder preparar-me para a difícil tarefa de lhe explicar como o mundo gira e não cai.

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    2. Prepara-te. aos 3 anos e meio consegue-se com algum sucesso dar a volta à questão do "como e de onde é que eu nasci ?" com alguma facilidade. quando a pergunta se repete aos 6...espero ter conseguido um equilíbrio catita entre a ciência e o sexo sem ser demasiado gráfica. Sem dúvida que o teu mundo animal ao estilo national geographic ajuda a explicar a vidas nos 2 extremos :)

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  2. também sou mãe, tendo o meu filho 13 anos (a idade do meu primeiro cigarro) recorro com frequência ao tema que, segundo me diz 'já me está a cansar'

    gostava de encontrar um meio termo entre a demasiada frequência e o silencio de cada tema tabu

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    1. Nestas coisas - e tendo em conta que ainda faltam 10 anos para o meu miúdo lá chegar - acho que temos de nos munir do bom senso. Afinal, e talvez contrariamente ao que achamos nessa altura, somos quem conhece melhor os nossos filhos e quem se importa mais com eles.
      Acima de tudo temos de estar presentes, passar a segurança de que podem e devem falar e que não é um tabu.
      Numa coisa os meus pais acertaram: tendo a informação disponível e havendo curiosidade, eu saberia onde procurar e eles saberiam, à partida, o que eu iria ler. O tema não era propriamente falado, mas sabiam que eu em querendo saber mais, podia fazê-lo com liberdade. O google tem um problema que é: permite muita coisa - talvez demasiada - bem como um acesso precoce à informação.
      Para mim o mais importante é vincular a importância dos afectos na sexualidade e o respeito pelo outro.
      Ao fim do dia, é isso que os vai fazer tomar certas decisões e afectar as suas escolhas.
      Acho que mais que tudo é essa a fórmula: dar a liberdade para descobrirem as coisas, mas sempre estando os pais muito atentos. As palavras são importantes, mas os exemplos em casa também.
      Acho que o medo de falharmos está sempre lá, o que faz a diferença é a preocupação em não falhar e tentar ser o melhor que conseguimos, porque respostas certas não existem.

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  3. Comigo resultou muito bem que sempre gostei muito de ler.
    Boa sorte :p

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  4. Não me lembro da conversa, mas sempre me contaram que fiz “A” pergunta muito nova. Optaram por explicar a através de um livro ilustrado para crianças, que basicamente mostrava uma série de animais no “acto de reprodução” e acrescentava a frase “ (nome do animal) introduziu o pénis na vagina e (nome do animal) ficou grávida”.

    No exemplo do cavalo e da égua, a minha mãe perdeu a paciência e disse: Estás ver. É sempre a mesma coisa!”, virou a página surge a imagem do homem e da mulher em conchinha e eu do alto da minha esperteza pergunto “Então o pai também te monta!”. Acho que devo acrescentar, que não fiquei traumatizada :)

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  5. A mim serviu-me o que aprendi nas aulas. Sempre encarei com naturalidade. Nunca tive conversas dessas com os meus pais, nunca senti necessidade.
    Em criança (assim tão novo) é que já não sei responder. Ainda ouvi a história das cegonhas, mas claramente não me enganaram. Era novo mas não era parvo, aquilo não fazia sentido. Devem-me ter despachado com algum "mais tarde vais perceber, mas os pais fazem cenas e depois os bebés aparecem".

    Anos mais tarde, simplesmente ouvia "vê lá... tu vê lá...". E aquilo chegava-me.

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  6. Eu apanhei os meus pais em plena fornication umas duas vezes..... estou traumatizada até hoje :\

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  7. Pois, no meu caso foi uma comicada e atingiu um nível que se poderia ter revelado bem mais complicado, do que foi. Em plena passagem de ano, devia ter 11 ou 12 anos, o meu pai decidiu ter essa conversa. Convém é dizer que estava num estado assim meio para o bezano! mas consegui compreender todo o dialecto coreano que estava a falar. Coitado, só deve ter ganho coragem assim, não sei. Isto para ser simpático. Mas, lá falou. Não dei grande importância, porque nunca tive uma relação muito próxima com ele, mas não esqueci. Afinal, aquilo foi caricato!
    No entanto, no início do 2.º período, eu dei uma matéria relacionada com o aparelho reprodutor, em Ciências da Natureza. E, todo contente, cheguei a casa e contei ao meu pai que dei na escola aquilo que ele me tinha estado a falar no outro dia. Achei estranho ele não me ligar nenhuma, nem sequer me responder. Saí da sala. E, ao ir para o meu quarto, ouço a minha mãe: "Mas o que é que tu andaste a dizer ao miúdo?!" E nunca mais ouvi falar de tal coisa lá em casa...
    Bom, quanto aos meus pequenos, não sei. O mais velho tem 5; a do meio tem 3; o(a) mais novo(a), só nasce no próximo ano... Portanto, acho que tenho tempo, para me preparar. Só espero não ter a infeliz ideia de decidir "elucidá-los" estando bezano...

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