O Natal também é isto.

Há muito tempo atrás (começo a entrar na fase de falar em coisas que aconteceram há 20 anos medo), ainda eu andava na escola, tínhamos um projecto de turma (começo a entrar na fase em que daqui a uns anos o meu filho tem projectos de turma MEDO): alegrar o Natal dos velhinhos da Santa Casa.

 

Ora, como sabem a minha relação com a terceira idade é "especial". Este foi talvez dos primeiros momentos em que me apercebi disso.

 

Estava um dia fresquinho, como a Serra pede no Inverno, ali a roçalhar uns 2ºC, quando chegámos à Santa Casa. Dia de sol, velhinhos na rua com mantas, crianças cheias de boa vontade...tudo para correr bem! Ou não.

 

Todos os meninos após a actuação do seu "Noite Feliz" (na verdade não me lembro da música, mas tinha algo a ver com o Menino nas palhinhas deitado) resolveram entrar no espírito de Natal e alegrar um pouco aqueles corações, falando com os velhinhos, segurando-lhes nas mãos, confortando-os...

 

Todos os velhinhos pareciam escolhidos, pelo que, na minha habitual sorte certeira, acerquei-me do velhinho mais isolado e de olhos tristes. Meti-lhe a mão no ombro e disse: Feliz Natal, com olhos meigos de criança mimosa, batendo pestanas de emoção por proporcionar um momento feliz ao velhinho.

Só que o velhinho tinha uma bengala, que rapidamente bradiu aos céus, levantando-se (agora sem aparente dificuldade) para correr atrás de mim, ameaçando-me com a mesma e começando num Tourette que se assemelhava a algo como "f*da-se!!", "para o c*ar..." e outros miminhos do género ^.^

 

Como devem imaginar, não fiquei com especial vontade de alegrar os velhinhos nos anos vindouros.

Retirei outra lição especial daqui: se há UM velhinho isolado, SE CALHAR, é por um BOM motivo, pelo que será melhor deixá-lo nos seus pensamentos, ao invés de armar-me em menina fixe-para-os-velhinhos. (isso ou alinhar os chakras do meu karma, porque estas coisas acontecem-me sempre a mim)

 

 

P.S. Se há coisa triste é ver pessoas em final de vida que sentem uma aterradora solidão. Temos todos vidas preenchidas, mas ao menos com "os nossos", façam por estar presentes. 24 horas na vida de quem tem todo o tempo do mundo, mas sente que já não tem muito mais a viver, pode ser assustador.