30.7.13

O fascínio de fugir.

É certo que os problemas, a crise, o dinheiro, a incerteza, tudo isso desperta em nós o sentimento de fuga. Um desejo infantil de regressão, que nos transporte de volta a quando tudo era simples e as coisas apareciam resolvidas, por alguém que não nós.
Em adultos deslumbramo-nos com as histórias de quem teve a coragem de sair daqui. É certo que também tenho esses dias, esse desejo, ou até essa admiração, por quem já fez mais que eu. Em outros dias, acho mesmo que a coragem é precisa, mas para ficar. Afinal, o que custa mais?
Fugir, quando se tem pouco, talvez não custe tanto. A nossa procura por opções, faz-se disso, dessa magia em transformar o nada em alguma coisa, mesmo com muitos kilómetros nos pés e poucas mobílias atrás.
Fugir, quando se tem muito, faz sempre pensar. Foge-se por um ideal, por um objectivo, por uma ambição, por um ser maior que nós próprios, por uma falta de identificação com aquelas raízes, que hoje estão já secas e a precisar de cuidados intensivos.
Fugimos, sempre, para mudar de vida. Para conquistar uma qualidade que a torne melhor, seja o amor que descobrimos noutra parte do mundo, a oportunidade da carreira de sucesso, o desejo de nos tornarmos cidadãos do mundo, a incapacidade de assentar num só local.
Fugir é raramente altruísta, porque antes de fugirmos de alguma coisa, estamos tantas vezes apenas a fugir de nós. Ainda assim, a fuga dos outros, faz-nos pensar se nós temos isso em nós, ou se fomos feitos para ficar.

7 comentários:

  1. Daí a expressão "fuga para a frente". Só que há muita gente que não distingue a frente e a traseira.

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  2. Verdade. Mas eu claramente fui feita para ficar. Acho que fugir é de facto mais fácil, e quem está aqui que se aguente à bronca.

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  3. e pior é quando nos sabemos feitas para ambas as coisas e oscilamos entre um dilema de fugir dos outros ou ficar por nós...

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  4. Parece-me que há os que fogem e há os que são expulsos.
    Os que ficam são os que escolheram e os que foram escolhidos.

    O futuro nos dirá quem mais perdeu. Seguramente que perderam todos, agora é só perceber quem perdeu mais.

    ps:Eu sou uma das expulsas.

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  5. Eu fui expulsa tb. E não me venham c histórias q custa mais ficar..pq n custa! Pq viver tds os dias com uma angústia no peito pq n tenho a minha familia e amigos cmg n é agradavel não. Ficar revela cobardia. E isso nunca.

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  6. Joana, não sei a tua situação em particular, portanto aí não opino, que nestas coisas, cada um sabe o quanto lhe custa.
    Agora, há quem vá por opção e coloque um futuro profissional à frente da família e dos amigos e há quem faça o inverso, tudo - até o que mais nos custa - depende daquilo que valorizamos em primeiro. E mesmo assim, às vezes temos de tomar decisões que contrariam aquilo que nos custe mais.

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  7. Ficar ou sair do país é algo que muitos têm que ponderar, vistas as circunstâncias em que o país se encontra. Os salários cada vez estão mais baixos e escassos. E parece que termos um curso aqui de pouco vale, ainda é pior. Por isso tudo depende, como tu dizes Rosa Cueca, depende do que valorizamos mais, e da nossa área de trabalho.

    Quando se tem uma família, acho, na minha opinião, colocar isso em primeiro lugar. Para mim colocar uma carreira profissional em primeiro lugar não tem muito sentido. Mas cada é como é. Mas quem não tem família, ou seja marido/esposa e/ou filhos, acho bem que vá para fora, porque se ganha muito melhor e ganha se muita experiencia também de vida.

    Agora querem trabalhar com o mínimo de pessoal, mesmo havendo lucros, só porque se fala muito da crise. E esquecem-se da lei, e querem que uma pessoa trabalhe muito, ou trabalhe 8 horas seguidas sem refeição, como já me foi sugerido. Já cheguei a aceitar um trabalho de vencimento minimo, só porque era desafiante, mas eram para fazer 3 funçoes, e mesmo assim não me chamaram, porque nao tinha experiencia numa das funções. contudo só essa função no minimo é para ser um vencimento de uns 1400 euros. enfim...cenas da vida. Querem é gente burrinha agora, meio ignorante que obedece e não faz perguntas. Porque já nao é o patrao que precisa de empregados, mas sim o empregado que tem que aceitar ou nao sem fazer perguntas. Mas há que ter esperança.

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