29.7.13

Verões.

É comum marcarmos a história através de datas. Quando misturamos algarismos e já nem sabemos datar algo com precisão, ficam-nos só as marcas, que estendemos numa e só memória, sem nos preocuparmos se ocorreram em 13 de Agosto de 1988, ou num qualquer outro dia. Não interessa.
Aí ficaram os meus Verões, de contar pedrinhas na água, acolher conchas no regaço da roupa, afagar todos os animais possíveis, ficar em cor de torrefacção de café, roer melão e limpar as gotas num só gesto, de encontro ao antebraço.
Ficou o sumol de laranja, o creme nívea, os gelados camy, tantos caprisonnes de maçã, o cheiro de borracha das braçadeiras e as línguas de gato, para comer como cerejas: de mão cheia e sem tenções de parar.
De chinelo no dedo, sentia-me, desde sempre, pronta a enfrentar o mundo. Ou apenas as ondas do mar, que teimavam em rebelar-se a mim, como se a recompensa de as domar, fosse apenas e só a autorização de mergulhar nelas, para depressa me devolverem a uma areia quente.
Certamente que era uma língua afiada, prestava-me a fazer amigos onde fosse e, hoje, interrogo-me muitas vezes quando foi a última vez que fiz amigos assim, por força de combustão espontânea, ao invés da mais ou menos complicada cimentação de afectos. Recordo-me em especial da minha, fraca, tentativa de estabelecer contacto com um bando de franceses, apenas sabendo a palavra: attention. Olhando para trás, a minha tentativa de achar que tudo seria um perigo possível, digno de avisar os interlocutores, parece idiota. Na prática, sei que na língua universal das criança, basta um sorriso e decidir tacitamente quem irá correr atrás de quem, numa apanhada que se desenrola tão rapidamente, quanto esse orgulho em poder dizer: somos amigos, assim, sem ser preciso muitas palavras.
Nunca fiz férias de luxo, geralmente iria a um parque de campismo, feliz por me demorar entre pinheiros, agarrar de forma firme as moedas para o banho quente, lavar a loiça rodeada por outras famílias, sentir a caruma debaixo dos chinelos e, suspiro, não contar o tempo.
Hoje, mais de 20 anos depois, mais do que sítios, procuro essa qualidade quase inatingível na vida adulta: a total independência do tempo. Poder virar costas, bater com a porta e dizer: não mandas em mim. Em criança, tudo parece muito simples, por oposição à vida adulta, em que tudo parece demasiado complicado. A experiência diz-me que as coisas não são de uma forma, nem de outra.
Diz também que o tempo é nosso, apenas temos de lhe tomar as rédeas.

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