Sempre que ouço a conversa de: ui detesto Tarantino.

Há uns tempos, estava alegremente a visualizar um filme numa sala de cinema, quando, atrás de mim, estavam dois casais a falar sobre filmes.

Basicamente elas passaram o intervalo todo a falar mal de Tarantino. Quando uma dizia: aquilo é só sangue e tripas, encostava-me mais fortemente ao assento e quase rangia os dentinhos, para me impedir de me virar para trás e explicar-lhe a mestria dos filmes de Tarantino e a simplicidade bacoca que há em os reduzir a mero espectáculo literalmente visceral.

Quando estava já mentalmente pronta a saltar da cadeira e pespegar um par de estalos, os próprios namorados das moças, visivelmente perturbados e colocando já a relação em risco, tentaram simpaticamente explicar o espectáculo visual que são os filmes de Tarantino, os argumentos e os diálogos para lá de espectaculares, paternalmente explicando que cinema não são só filmes de Domingo à tarde.

Eu assentia com a cabeça e adicionava argumentos como o trabalho de câmara, a encenação, o sentido de humor único, as bandas sonoras, as temáticas que aborda, parando apenas para reflectir no raio do fetiche com os olhos que o tipo tem e o egocentrismo de estar sempre a aparecer nos próprios filmes.

 

Isto para dizer o quê: aquelas relações estão condenadas ao fracasso. Como dizia o outro que quem não ouve a mesma canção, a coisa não dá, com filmes ainda piora.

Se tivesse um namorado que me arrastasse para tudo o que é Fast and the Furious e Tekken e o diabo a sete, mais depressa me viam a agarrar na minha colecção de filmes e fugir a meio da noite, deixando só uma notinha num post-it: fui comprar filmes à Fnac.