7.8.13

Ser pai em tempo de crise. (post gigantone alert)

Acho que se pensarmos um pouco, crise deverá ser a palavra mais usada neste ano, mas espero pela reportagem jornalística que me dê razão no Jornal do meio-dia, notícia de abertura, de dia 1 de 2014.
Todos temos a nossa palavra no assunto e são várias e extensas as reflexões que são feitas acerca dela. Hoje falo dos pais, que são os nossos pais, e da sua geração.
Como é, afinal, ser pai de filhos +30, neste panorama?

Eles, muitos com esforço, trabalharam, pouparam, acompanharam e aconselharam, tudo para que tivéssemos algumas oportunidades que eles não tiveram. Falo mal. Para que tivéssemos a Educação, paga, que muitos deles não tiveram.
Estes são os mesmos pais que deixaram de, em suma, consumir, para terem recursos a empregar no futuro dos filhos. Há quem nos diga que são os mesmos pais que consumiram acima das suas possibilidades.

Hoje são os que vêem os filhos em casa. Agarrados às máquinas. Não as que temem para si, daqui a muitos anos, quando a velhice se impuser e a vontade de continuar cá diminuir, mas as máquinas electrónicas: os portáteis, os telemóveis, os Pc's, as consolas.
São estas as máquinas que os prendem e os mantém ligados, simultaneamente.
Servirão de recurso na procura de emprego, de conhecimento, quando bem utilizadas, de contactos, se as comunicações forem feitas nesse sentido. São também o que ocupa a maior parte do dia de tantos jovens adultos, desde que os pais saem de manhã para trabalhar, até que chegam e se deparam com os filhos em posição rígida semelhante, com a diferença da taça de cereais no lavatório, assegurando que colocaram qualquer coisa no estômago.

A desmotivação é grande, todos a vemos. As pessoas falam do que sentem, do impacto que esta crise, este desemprego, causa nelas. Pouco tenho ouvido falar da boca dos pais. Julgo que será porque a sua maior tarefa é garantir que os filhos tenham a capacidade de cuidar de si e da sua vida, idealmente, sem a intervenção deles, e falar é admitir, ainda mais, que possam ter falhado.
Não falharam, necessariamente.

A prática mostra que os pais são chamados a intervir, sempre que os filhos têm dificuldades.
Que pai nega essa ajuda? Que pai pode negá-la, quando vê as notícias, quando percebe que há muitas dificuldades em encontrar trabalho, que as contas aumentam e a vida custa muito tanto a ganhar?
Mas nem todos estes jovens adultos quererão enfrentar a realidade. Quererão arregaçar as mangas. Esta é a geração que sonhou que poderia ser o que quisesse e isso é um preço a pagar.
Subsistir, ou continuar a lutar pelo sonho? É uma escolha difícil, uma escolha que um pai não quer que um filho tenha de fazer. A questão é que é uma escolha que pode fazer a diferença.
Como os pais vêem a mudança na dinâmica familiar, do filho que retorna a casa, será um pau de dois bicos: por um lado, a costela de protecção que nenhum pai nega, desde os 0 até ao momento em que feche os olhos e o filho continue a viver, por outro, a tristeza de saber que o regresso é um mau indicador.

A liberdade que se sonhou para os filhos, está, lentamente, a ser melindrada. Os nossos pais irão trabalhar mais anos, descansar menos, talvez ter part-times, cortar em muita coisa. Naquilo que nunca cortarão, os pais a sério, é nas asas que deram aos filhos, através da capacidade de pensar, para a qual tanto pagaram. Se essa capacidade foi uma ilusão, propagada pelos inadequados Estabelecimentos e Programas de Ensino, ou perpetuada pela incapacidade de resposta social, ainda não sabemos.
O que sabemos é que a Educação, em muitos casos, foi um investimento com um retorno azedo e fora de prazo.

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